Dólar está caindo; quem investiu na moeda faz o que agora?
Resumo da notícia
- Depois de quase bater R$ 5,80, dólar cai para perto de R$ 5,00
- Decisão de vender ou não depende de objetivos do aplicador, dizem especialistas
- Quem não tem aplicação em dólar pode entrar agora? Analistas respondem
Depois de bater quase R$ 5,80 em março, o dólar entrou em um ciclo de baixa, caindo para perto de R$ 5,00. A cotação ainda está acima de patamares anteriores à pandemia, quando operava perto de R$ 4,00, mas a desvalorização deixou preocupados investidores que estão nesse negócio.
As projeções feitas por mais de cem especialistas de mercado ouvidos semanalmente para o Boletim Focus, do Banco Central, ainda apontam um dólar no fim do ano mais alto que hoje, na casa de R$ 5,30. Mas profissionais de mercado destacam que moedas tradicionalmente apresentam volatilidade e apontam fatores que podem levar a moeda norte-americana abaixo de R$ 5,00 antes de iniciar uma recuperação.
Nesse ambiente de incertezas, o que o investidor que aplicou em dólar ou negócios que acompanham a moeda norte-americana, como fundos cambiais ou BDRs —recibos de ações de empresas estrangeiras— deve fazer? E quem não entrou nessa aplicação, vale pegar o bonde agora? Confira abaixo o que disseram os especialistas.
Profissionais de mercado ressaltam a orientação que recomendações sempre variam de pessoa para pessoa, porque isso depende principalmente dos objetivos de cada investidor. Veja abaixo cenários traçados por profissionais de mercado e orientações -para quem já tem aplicação em dólar e para quem está pensando em entrar apenas agora.
Por que o dólar caiu para perto de R$ 5,00?
- Juros em alta no Brasil: a recuperação do real frente ao dólar começou depois que o Banco Central do Brasil começou a subir a taxa básica de juros. A Selic, que estava em 2%, já subiu para 3,5% e, segundo projeções do mercado, vão fechar o ano em pelo menos 5,5%. Quanto mais alta a taxa de juros no Brasil, maior a diferença dos ganhos de renda fixa aqui em relação aos rendimentos oferecidos nos Estados Unidos, o que atrai investidores estrangeiros e dólares.
- Recuperação da economia: o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil está reagindo mais rapidamente que o esperado. Isso anima investidores do exterior que buscam oportunidades de negócios na economia real. Além disso, quanto mais a economia anda, maior a possibilidade de o Banco Central elevar os juros para segurar a inflação.
- Exportações: o Brasil é grande vendedor de matérias-primas para outros países, e como esses produtos --commodities, como minério, grãos, carne-- estão se valorizando no mercado mundial, o Brasil está faturando mais dólares.
Esse conjunto de fatores trouxe o dólar de quase R$ 6,00 para perto dos R$ 5,00 e pode continuar influenciando o dólar a cair um pouco abaixo disso.
Roberto Indech, estrategista-chefe da Clear Corretora
O dólar vai continuar caindo?
Considerando um horizonte de curto prazo, de um a três meses, esses fatores devem continuar influenciando a queda do dólar ante o real, dizem profissionais de mercado.
Mas esses mesmos analistas destacam que o Brasil segue mergulhado em incertezas que podem fazer a moeda norte-americana voltar a subir em relação ao real. Entre esses fatores de risco estão:
Gastos do governo e reformas: os investidores estrangeiros continuam preocupados com o tamanho da dívida do governo. Quanto maior o endividamento público em relação ao PIB, menor o espaço para que o governo possa pagar as contas e ainda investir e atrair o capital necessário para que o país possa crescer com geração de empregos. Para economistas, o Brasil precisa aprovar algumas reformas, como a tributária e administrativa, para se livrar desse peso.
Pandemia: a vacinação está andando, mas os casos de covid-19 seguem elevados, e a economia brasileira ainda convive com restrições de atividade. Novas ondas da doença no país podem atrapalhar a economia e afastar investidores e dólares.
Eleições em 2022: profissionais de mercado dizem que as eleições ano que vem podem deixar os investidores mais cautelosos, uma vez que há dúvidas sobre como será o próximo governo.
O aplicador tem que ter cuidado com o superotimismo, que de uma hora para outra pode se desfazer. O investidor de câmbio tem que estar sempre preparado para a volatilidade. Ano que vem tem eleição, que pode provocar mais instabilidade no mercado de câmbio.
Vanessa Blum Colloca, economista-diretora da corretora de Getmoney Câmbio
O que fazer?
Levando tudo isso em conta, o que deve fazer o investidor em relação ao dólar? Segundo profissionais de mercado, isso depende dos motivos que levaram a pessoa a aplicar em ativos relacionados à moeda norte-americana. Por isso, é importante dividir as recomendações de acordo com as situações.
Veja abaixo essas condições e o que fazer em cada uma delas.
Como proteção: para quem comprou dólar ou aplicou em ativos atrelados ao dólar, como fundos cambias, ouro, BDRs ou ETFs, porque tem ou terá despesa em moeda estrangeira, como uma viagem internacional, um curso no exterior, ou fatura no cartão de crédito em dólar, a recomendação é continuar na aplicação. Afinal, o objetivo aqui não é ganhar, mas sim evitar perdas.
Como diversificação: quem aplicou em dólar com objetivo de diversificar a carteira e ter uma parte do patrimônio em moeda estrangeira também vale a pena continuar nesse negócio, dizem gestores de recursos. O que o investidor pode fazer é ajustar essa fatia após movimentos de forte variação da moeda norte-americana em relação ao real.
Se a pessoa, de acordo com o perfil de risco dela, decidiu ter 10% da carteira em dólar, e com a queda da moeda norte-americana, esses 10% viraram 8% da carteira, então pode fazer sentido ela vender ativos que se valorizaram bastante recentemente, e aplicar esse ganho em ativos em dólar.
Roberto Indech, estrategista-chefe da Clear Corretora
Como especulação: quem comprou dólar apenas para especular, com objetivos de ganhos de curto prazo, vender ou não agora vai depender do momento em que a pessoa entrou na aplicação, dizem consultores. Se a pessoa comprou dólar a R$ 4,00, por exemplo, pode ser interessante vender agora. Mas se a aposta começou quando a moeda estava a R$ 5,00, a dica é esperar um novo ciclo de valorização, que pode vir no segundo semestre.
O problema de aplicar buscando ganhos de capital é que o mercado de câmbio é muito volátil e, por isso, muito difícil de acertar o momento de comprar e de vender.
Vanessa Blum Colloca, economista-diretora da corretora de câmbio da Getmoney Câmbio
E quem está fora, vale a pena entrar agora?
As respostas para esse investidor que não tem aplicação atrelada ao dólar também vão depender dos objetivos que cada um tem.
Para especular: como investimento de curto prazo, o dólar perto de R$ 5,00 ainda não é porta de entrada porque existe o risco de a moeda norte-americana recuar mais um pouco, influenciada por fatores como juros em alta e valorização de commodities. Então, o potencial de ganho de capital não é forte neste momento, aponta a analista de pesquisa da casa de análises Empiricus, Larissa Quaresma.
Esses movimentos de mercado são sempre difíceis de acertar. Por isso, o mais importante é montar carteiras de longo prazo. Tentar acertar apostas de curto prazo é muito arriscado.
Larissa Quaresma, analista de pesquisa da Empiricus
Para diversificar: quem quer aplicar em fundos cambiais, BDRs ou outros negócios que acompanham a moeda norte-americana com objetivo de ter parte dos investimentos de longo prazo —aquele dinheiro para usar daqui a cinco anos ou mais— vale muito a pena entrar neste momento, dizem analistas. A recomendação é comprar aos poucos, para fazer uma cotação média. A pessoa pode não acertar o melhor momento, mas também evita comprar nos piores momentos.
Investimento em moeda estrangeira é uma forma de proteção para carteira. É sempre bom ter um pouco para proteger o patrimônio no longo prazo de momentos de estresse relacionados ao ambiente doméstico.
Larissa Quaresma, analista de pesquisa da Empiricus
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