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Artesãs querem selo de exclusividade de bordado filé em Alagoas

Petrucia Ferreira Lopes, presidente da Associação de Mulheres do Pontal da Barra, em Maceió (AL) - Divulgação
Petrucia Ferreira Lopes, presidente da Associação de Mulheres do Pontal da Barra, em Maceió (AL) Imagem: Divulgação

Afonso Ferreira

Do UOL, em São Paulo

26/03/2013 06h00

Um bordado tradicional de Alagoas, o filé, está prestes a receber um selo de identificação geográfica que garantirá o reconhecimento de que a técnica foi criada e é exclusiva do Estado. O processo está em fase de levantamento histórico e será apresentado, em breve, ao INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial).

Um grupo artesãs de Maceió, capital do estado, está reivindicando a autoria da técnica para garantir um diferencial no seu trabalho e valorizar a confecção de peças como porta-bandejas, toalhas de mesa e até peças de vestuário, como xales, saias e vestidos.

A técnica do filé consiste em um bordado com pontos geométricos, que tem como base a rede de pesca presa a um tear de madeira.

Segundo a presidente da Associação de Mulheres do Pontal da Barra, Petrucia Ferreira Lopes, 45, com o selo de identificação geográfica elas poderão cobrar mais caro pelo produto. Hoje, os preços variam de R$ 8 a R$ 400, dependendo da peça.

Após o reconhecimento, a estimativa de Lopes é que os produtos valorizem em até 40%.

“Quem comprar as nossas peças terá a garantia de que elas foram feitas com as características regionais. Vamos conseguir nos diferenciar daqueles que não fazem o legítimo filé e tiram a credibilidade do nosso trabalho”, afirma.

O grupo conta com a ajuda do Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) para conseguir o selo.  Após o reconhecimento –que deve demorar dois anos para ser concretizado–, somente as artesãs alagoanas poderão fazer o bordado.

Se uma profissional da Bahia quiser produzir peças com o filé, por exemplo, o produto não será reconhecido como o verdadeiro bordado alagoano.

Associação profissionalizou artesãs

As artesãs começaram a ganhar visibilidade após formarem a associação, em 1999. Antes, de acordo com Lopes, as vendas eram em quantidades menores e uma mesma peça poderia ter preços diferentes, dependendo de quem a produziu.

Hoje, no entanto, elas têm planilhas de custos, que levam em consideração o material e o tempo gasto para produzir uma peça. Todas as decisões são tomadas em grupo.

“Algumas vezes um trabalho era vendido com preço abaixo do que valia e a artesã não tinha lucro. Vejo o grupo mais unido”, diz.

Inovar sem perder a tradição

O selo de Indicação Geográfica

O que é?É um selo que garante a procedência do produto e que ele foi produzido seguindo as características de produção de uma determinada região.
Quando pode ser pedido?Quando a qualidade e a fama de um produto ou serviço estão ligadas à cidade ou região de origem.
Como pedir?É preciso comprovar a exclusividade regional de um produto ou serviço e solicitar a autenticidade ao INPI. Também é preciso pagar uma taxa, que varia de R$ 590 a R$ 2.135. Veja lista de documentos necessários e formulário do pedido no site do instituto.
Quanto tempo demora?Após a formulação do pedido, o prazo para a concessão do selo leva de 12 a 18 meses.
  • Fonte: INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial)

Para Marlene Augusta dos Santos, diretora técnica da Sutaco (Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades) –autarquia ligada ao Governo de São Paulo– as associações dão maior visibilidade aos artesãos. Além disso, é possível conseguir descontos quando todos compram do mesmo fornecedor.

Mas, o artesão que participa de uma associação tem de tomar cuidado para não ficar dependente do trabalho coletivo. É nessa hora que ele deve utilizar a criatividade e inovar em seus produtos.

Segundo a diretora da Sutaco, mesmo no artesanato típico, como é o caso do filé alagoano, é possível inovar. A tradição tem de ser preservada, mas pequenas interferências podem ser feitas, como diminuir um tamanho ou colocar cores da estação no produto.

“Quando o artesanato é típico, já tem apelo por si só. No entanto, o artesão não precisa ficar restrito a uma peça só. Se ele trabalha com tecelagem, por exemplo, pode fazer capas para almofadas ou outro produto que ainda não faça, mantendo a mesma técnica”, declara.

Falta “lado empresário” aos artesãos

De acordo com o consultor de finanças e custos do Sebrae-SP Salvador Serrato, muitos artesãos precisam despertar o seu “lado empresário”. Segundo Serrato, eles são artistas preocupados com a criação e dão pouca atenção aos custos e à gestão do negócio como um todo.

Na hora de dar o preço a um produto, por exemplo, o artesão tem de considerar, além das despesas (materiais, luz e aluguel), a margem de lucro e o público-alvo das vendas.

Para o consultor do Sebrae, o artesão tem de identificar qual o público disposto a comprar suas obras e produzi-las visando estes clientes. “No mercado, há valores de referência nos quais é possível se basear. Há a necessidade de profissionalizar a gestão”, afirma.