Preço da gasolina cai 2,08% em refinarias, mas valor não reduz nos postos
Após 12 aumentos seguidos, a Petrobras anunciou redução de 2,08% no preço da gasolina nas refinarias, mas esse desconto não chegou às bombas dos postos e ao consumidor. A promessa de postos e distribuidoras é que isso deve acontecer na semana que vem.
A reportagem do UOL consultou o preço do combustível em quatro postos da região oeste de São Paulo na noite de terça-feira (22) por meio de um aplicativo de celular. Em visita aos postos nesta quarta-feira (23), os preços continuavam os mesmos em três locais. Em um deles, o valor estava maior: no aplicativo custava R$ 4,199, enquanto no local, saía por R$ 4,299. Segundo funcionários do posto, o aumento já havia ocorrido desde sexta-feira (18), e o aplicativo estava desatualizado.
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Empresas dizem que preço cai na próxima semana
José Alberto Gouveia, presidente do Sincopetro, sindicato dos postos de gasolina do estado de São Paulo, diz que os combustíveis que saem das refinarias costumam demorar entre quatro e cinco dias para chegar aos postos.
Segundo ele, é este o intervalo que os postos geralmente levam para baixar ou aumentar seus preços a cada vez que há um reajuste na fonte, nas refinarias.
Com isso, ele diz que as reduções no preço da gasolina anunciadas pela Petrobras devem ser sentidas pelo consumidor a partir da próxima semana. “Se recebermos o produto e ele estiver de fato mais barato, vamos baixar os preços com certeza”, diz.
Postos põe culpa em distribuidoras
Além dos atrasos na entrega por causa da greve dos caminhoneiros, o presidente do Sincopetro diz que o preço cobrado pelos postos não está diretamente ligado ao preço da Petrobras. “Nós não compramos gasolina da Petrobras, compramos da distribuidora, então dependemos de elas repassarem a redução para frente.”
Atualmente, há mais de 140 distribuidoras de combustíveis no Brasil, mas a maioria delas é regional e formada por empresas pequenas. As três maiores – Ipiranga, Raízen e BR Distribuidora, da própria Petrobras – detêm cerca de 70% do mercado, segundo o Sincopetro.
São as distribuidoras que compram a gasolina da indústria, feita nas refinarias, e revendem para os postos de gasolina. No refino, por sua vez, praticamente toda a produção nacional vem da Petrobras –ela concentra 95% da produção das refinarias no país.
Gasolina demoraria para chegar aos postos
O caminho da gasolina entre refinarias e os postos é longo, há outras revendedoras no meio e embute impostos e frete. Essa defasagem é uma das principais razões alegadas pelos postos de gasolina para a demora em reduzir os preços.
O UOL falou com a Brasilcom (Associação das Distribuidoras de Combustíveis), mas ela não se pronunciou até a publicação dessa reportagem.
Nesta semana, pesou ainda a greve deflagrada por caminhoneiros de todo o país, em protesto contra o aumento no preço dos combustíveis, que está atrasando entregas e ameaçando alguns postos de ficarem sem estoque.
Preço parece mudar só quando sobe, não quando cai
Consumidores disseram que a impressão é que os preços só mudam quando há aumento, nunca quando caem nas refinarias.
“Só abasteço com gasolina e nunca vejo o preço baixar. Eles falam que vão diminuir e não diminuem nada. Não sinto nada de redução, nem um centavo. Pelo contrário, só aumenta”, afirma a psicóloga Sílvia Simões, 59. Ela diz que, com o combustível mais caro, está usando mais o transporte público.
“Estou dirigindo menos. Apesar de o transporte público ser precário, às vezes prefiro ir de metrô e ônibus. Hoje, R$ 50 de gasolina não são nada. Faz muito tempo que não encho o tanque. Só vou colocando gasolina quando preciso sair.”
O taxista José Marcelino Filho, 58, também diz que não sente a redução nos preços dos combustíveis. “A gasolina está cara. A gente sente quando aumenta. Quando reduz, não. Tem que parar de subir. Se vou rodar o dia inteiro para pagar a gasolina, como faço para pagar o aluguel de casa? Não compensa. Estou abastecendo com álcool. Com esse carro, eu chego a gastar R$ 90 por dia de combustível. É quase metade do dia só para pagar o combustível.”
O motorista de aplicativos de transporte Joilson Coutinho, 37, também não sentiu a redução nos preços nesta quarta-feira. “Para mim, não baixou nada ainda. Não senti nenhuma redução. A gasolina está aumentando muito, e a qualidade está muito ruim. Tem que tentar driblar, evitando rotas mais longas, tentando escapar do trânsito e, quanto estou sozinho, só fico de vidro aberto para não usar o ar-condicionado. Aí, dá para economizar um pouquinho. Mas não tem jeito, a gasolina continua subindo.”
Para escapar da alta da gasolina, a publicitária Bianca Sabatino, 38, decidiu começar a abastecer o carro com etanol. “Só sinto o aumento. A gasolina subiu muito nos últimos tempos. O álcool também, mas não tanto assim. Peguei esse carro não faz muito tempo e tinha a meta de só abastecer com gasolina. Quando o combustível passou de R$ 4, vi que não dava mais e comecei a colocar só álcool.”
Redução de 2,69%
Após diversos aumentos no preço da gasolina em maio, a Petrobras anunciou duas reduções consecutivas nos últimos dois dias. O primeiro corte foi na quarta-feira (23) e outro vale a partir desta quinta (24). No total, isso significa uma redução de 2,76%, e o preço vai para R$ 2,03 o litro nas refinarias.
Na segunda-feira (22), quando atingiu seu pico, o valor do litro da gasolina chegou a R$ 2,07 nas refinarias, 14,4% mais que no início do mês: R$ 1,81. Os preços são divulgados pela Petrobras e podem ser acompanhados em sua página na internet.
Na sexta-feira (19), dado mais recente da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), o preço da gasolina nas distribuidoras estava R$ 3,87 e, nos postos de gasolina, R$ 4,28, considerada a média nacional.
Maior fornecedora de gasolina do país, a Petrobras tem reajustado os preços de suas refinarias quase diariamente, acompanhando o barril do petróleo e a variação do dólar no mercado internacional. Como ambos tiveram aumentos expressivos em maio, a gasolina aqui dentro também acompanhou.
(Edição de texto: Armando Pereira Filho)
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