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Número de pequenas produtoras triplica em dois anos com lei da TV paga

Carolina Cunha

Do UOL, em São Paulo

28/05/2014 06h00

Pouco mais de dois anos após a sanção da Lei da TV Paga, pequenas produtoras estão conseguindo entrar num mercado antes aberto apenas para grandes empresas. Desde 2012, ano em que as cotas de exibição de produções nacionais passaram a vigorar, o número de produtoras triplicou.

Em novembro de 2011, a ABPITV (Associação Brasileira de Produtoras Independentes) tinha 151 filiados, hoje são 465.

É o caso da carioca Soul Filmes, criada em 2012. “Praticamente não teríamos chegado ao que somos hoje se não fosse pela lei”, diz Roberto Rio Branco, sócio da produtora.

Quando percebeu que o setor ficaria aquecido, ele largou o emprego e se uniu a dois videomakers que estavam prestes a apresentar um projeto para o canal Turner.

Os contatos na área ajudaram a abrir portas e uma das primeiras séries a emplacar foi “Sangue, Suor e Javalis”, no canal Off, hoje um dos principais clientes da produtora.

Depois veio o TLC, exibindo a série “Viagens Maneiras”, e documentários musicais no canal Bis.

No início, todo dinheiro da Soul Filmes veio com a realização de projetos. O desafio, então, era equilibrar o caixa, já que as filmagens podem levar meses e demandam custos altos com a contratação de roteiristas, diretores, viagens, entre outros.

Branco afirma que uma produtora pode começar a funcionar com apenas uma câmera profissional e um software de edição (investimento de cerca de R$ 15 mil) para trabalhos pequenos voltados para internet e vídeos corporativos.

Com projetos mais complexos, compensa alugar equipamento e estúdios, e, com o tempo, investir em estrutura própria.

“Uma diária para aluguel de câmera e equipamento de áudio e luz para uma filmagem simples pode girar entre R$ 500 e R$ 1.000. Isso sem contar a diária dos profissionais, que varia muito”, afirma.

Sem divulgar seu faturamento, Branco diz que, desde sua criação, a produtora realizou 15 projetos, e hoje a equipe tem cerca de dez pessoas.

A Boutique Filmes, de São Paulo, nasceu com equipamentos e projetos próprios em 2013. Antes de bater na porta das emissoras, os três sócios que trabalhavam em grandes produtoras investiram mais de R$ 300 mil.

“Foram oito meses só de incubação da empresa. Tivemos um tempo para desenvolver ideias e projetos bons o suficiente para apresentarmos aos canais que a gente gosta”, diz Thiago de Mello, sócio e produtor-executivo da Boutique, que hoje emprega 15 funcionários.

Produção para TV exige boa gestão de caixa

Para TV, a produção e os riscos são grandes. “Quando você vende uma série, o custo é grande no início e menor no final. Mas você recebe uma parte antes, e leva um tempo para equalizar o fluxo de caixa. O mais importante para uma produtora iniciante é ter alguém bom em vendas e negociações. Não adianta ter boas ideias se você não sabe transformar isso em produtos”, diz Branco.

Carla Albuquerque, diretora-executiva da Medialand, produtora criada em 2006 e especializada em conteúdo para TV, conta que para produzir uma série de ficção, o valor pode variar entre R$ 100 mil e R$ 300 mil por episódio, enquanto um documentário pode custar de R$ 50 mil a R$ 180 mil por episódio.

Na opinião da executiva, quem quer atuar no ramo precisa ter uma boa carteira de projetos para lidar com a espera e os custos. “O dia a dia é uma grande linha de produção e fazemos de tudo para trabalhar com desperdício quase zero”.

Modelo de negócio é desafio

Para Mauro Garcia, diretor da ABPITV (Associação Brasileira de Produtoras Independentes) hoje não vale mais o lema “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”. “O desafio é encontrar o modelo de negócio certo. O que se estabelece agora é uma parceria. Se antes a produtora só vendia serviços, agora ela também é cofinanciadora”, avalia.

Existem diferentes modelos de negócio para a área, como o financiamento por recursos da emissora, a coprodução com emissoras (onde canal e produtora dividem os custos), o mix de verba privada e pública (a produtora participa de editais da Ancine, do Ministério da Cultura e busca incentivos fiscais como a Lei Rouanet) e a solicitação de recursos públicos.

Um bom caminho para a produtora iniciante é participar de mecanismos de incentivo. Para isso, ela deve estar cadastrada na Ancine (Agência Nacional do Cinema), que valoriza a empresa de acordo com a experiência. “Os produtores iniciais podem captar até R$ 1 milhão em projetos do órgão”, diz Garcia.

Entender a burocracia é fundamental para aproveitar os incentivos da lei

Criada antes da lei, a Academia de Filmes, produtora de, entre outros, o reality “Temporada de Moda Capricho” (Boomerang) e a série “Amores Expressos” (Arte1/Cultura), acompanhava desde 2007 o projeto que resultou na Lei da TV Paga. Tudo para cumprir uma etapa importante dessa nova legislação: a capacitação para entender os mecanismos e benefícios das leis de incentivo. 

“A produtora precisou estruturar a área para gerir relações institucionais com órgãos públicos, atividade que inclui aspectos jurídicos e burocráticos, mas extremamente importantes para ter acesso aos recursos que fomentam a produção”, diz o produtor Paulo Roberto Schmidt. Em 2013, 40% do faturamento da produtora veio de conteúdo não publicitário.