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Empresárias fazem lingerie especial para mulher que precisou retirar a mama

Thamires Andrade

Do UOL, em São Paulo

04/11/2013 06h00

Há 30 anos, a prima de Myriam Sanchez, fundadora e sócia-proprietária da loja Mama Amiga, de São Paulo (SP), foi diagnosticada com câncer de mama e precisou ser submetida a uma mastectomia (retirada da mama).

As dificuldades não se limitaram ao tratamento da doença, que, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), é o segundo tipo de câncer mais comum entre as mulheres.

Vaidosa, ela não encontrava produtos específicos para quem passou pelo procedimento. Foi quando Sanchez resolveu pesquisar mais o mercado e investir R$ 100 mil para abrir a empresa, em 1984.

Hoje, produz sutiã, biquíni e maiô, e fornece próteses para mulheres que precisaram retirar a mama. Os preços variam de R$ 192 a R$ 449. Ela diz que vende a média de 50 sutiãs e 60 próteses por mês, e que a linha representa 80% do seu faturamento.

Outra companhia que resolveu criar uma linha especial para atender a esse público foi a Ouseuse, de Juruaia (MG). A empresária Rosana Marques diz que investiu no negócio mais pelo apelo social. Hoje vende 2.000 peças por mês. Cada uma custa, em média, R$ 49,90.

As peças criadas para mulheres que foram submetidas a uma mastectomia são confeccionadas com um compartimento para que ela consiga encaixar a prótese e a mantenha mais segura na altura dos seios. 

Processo de criação das peças segue a moda

Para confeccionar as peças da Mama Amiga, Sanchez diz que avalia o que está na moda, como cor, tecidos, rendas e outros detalhes.

Ela afirma que acompanhou as dificuldades da prima, que não encontrava sutiãs coloridos e maiôs, apenas peças básicas. "Chegamos a ir ao Rio de Janeiro procurar peças na época." Por isso, hoje ela investe em design.

“A gente procura seguir as tendências para oferecer uma peça que se encaixe no perfil das nossas clientes. Tem alguns produtos que são concebidos conforme a demanda, pois a gente sabe que, se tem alguém pedindo uma determinada cor, é porque outras também procurarão em breve”, diz.

No entanto, nem todos os pedidos das clientes são atendidos. “Se a pessoa pede um modelo inadequado, não produzimos. O sutiã, por exemplo, precisa atender à necessidade de ter um compartimento para colocar a prótese de silicone dentro”, destaca Sanchez.

Peça é recomendada por motivos de saúde

O uso do sutiã com prótese de silicone também é recomendado por profissionais para evitar problemas de coluna, visto que nem sempre a mulher retira as duas mamas no procedimento.

“Não é só vaidade. A paciente pode apresentar problemas físicos, de coluna, ficar com o ombro caído”, afirma Sanchez.

Segundo a empreendedora, a prótese de silicone é um dos produtos mais procurados na loja, e o custo pode variar de R$ 192 a R$ 449, dependendo do tamanho e da qualidade do produto.

Já os preços dos sutiãs variam de R$ 50 a R$120, conforme o modelo, material e tamanho. Os maiôs tem custo entre R$ 150 a R$ 189.

“Mas precisa escolher a prótese adequada para usar na água, pois a de silicone, por exemplo, pode ficar danificada ao entrar em contato com cloro, sal e areia”, declara Sanchez.

A linha para mulheres que passaram por mastectomia representa 80% do faturamento da Mama Amiga e Sanchez estima que o faturamento da loja tenha aumentado 5% ao ano.

Ajudar o próximo virou oportunidade de negócio

Marques, dona da loja de lingeries Ouseuse, diz que resolveu investir no segmento para tentar elevar a auto-estima de quem passou por esse tipo de cirurgia. “A linha foi criada em 2007 para proporcionar bem-estar às mulheres que passavam por essa experiência”, afirma.

Há quase 20 anos no mercado, atualmente a linha de mastectomia representa 5% do total de faturamento da Ouseuse. “Nós oferecemos sutiãs com e sem renda, com cores mais básicas, como preto, branco e caramelo, ao preço médio de R$ 49,90”, diz Marques.

A empresária também criou o projeto Amigas do Peito para doar sutiãs especiais às mulheres carentes que passaram por uma mastectomia.

“As doações têm aumentado e espero que também a conscientização de que as mulheres precisam fazer o auto exame das mamas”, declara Marques.

Abordagem diferenciada é determinante para o negócio ser bem sucedido

De acordo com a consultora do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo) Beatriz Cristina Micheletto, o empresário que quer investir em um negócio desse tipo deve entender sobre o segmento.

Também é importante, segundo ele, estudar as peculiaridades do consumidor e dar uma atenção especial devido ao momento que a pessoa está passando na vida.

“Normalmente a mulher está fragilizada e com baixa autoestima. É preciso ter uma abordagem sutil e positiva. Se a loja for física, a dica é espelhar-se em belas lojas de lingerie tradicionais. Nada que a faça sentir-se diferente, e sim, especial. Se for uma virtual, utilize belas fotos de modelos e de produtos.”

A consultora também aponta que, para um bom atendimento, a equipe precisa ser bem treinada. “Se o empreendedor tiver a preocupação de tornar essa compra uma experiência agradável, a cliente fica satisfeita e retorna”, afirma Micheletto.

Empresas não devem criar linha apenas visando o lucro

Tadeu Bastos Gonçalves, da São Judas Consultores, especializado em gestão de empresas de confecção, afirma que o maior risco para o empreendedor é criar uma linha desse tipo apenas visando o lucro.

"O ideal é que o empresário já esteja no ramo de lingeries, que já é um setor de confecção especializado, para, depois de muita pesquisa, criar produtos exclusivos. As variedades são inúmeras e o lucro será uma consequência", diz.

Para Gonçalves uma oportunidade é criar uma loja virtual para atender todo o mercado.

"Ainda que não tenha dados absolutos de mulheres que passam por esse procedimento no Brasil, infelizmente a gente sabe que muitas precisam se submeter a esta intervenção. Para distribuir por todo território nacional, uma loja online é uma boa opção", afirma.

Embora o investimento para abrir o negócio não seja tão grande, Gonçalves acredita que não há espaço para amadores.

"O empreendedor não pode esquecer que esses produtos são de moda e devem ser tratados como tal. É necessário muita pesquisa de campo, conversar com essas mulheres e ouvir suas demandas", diz.

Mercado de vestuário feminino está desaquecido

Aumento dos custos de produção, inflação alta e retração do consumidor são algumas dificuldades que os empresários do ramo de confecção feminina têm enfrentado, segundo Roberto Chadad, presidente da Abravest (Associação Brasileira do Vestuário).

"O mercado não cresce desde 2010 e o aumento do preço de petróleo promete impactar ainda mais as vendas, visto que todo transporte no Brasil é feito por rodovias", afirma.

Para Chadad, o ideal para quem deseja abrir um negócio nesse segmento é ter um bom capital de giro próprio, além de um bom estudo de mercado.

"Para ter lucro, o empreendedor de uma pequena empresa não deve terceirizar a venda. Ele pode fazer a confecção do produto e vender em um espaço pequeno mesmo. Esse tipo de negócio tem dado lucro mesmo com a estagnação do mercado", afirma.