Artesãos transformam Louis Vuitton, Nike e Adidas falsos em bolsas e calças
Mercadorias falsificadas de marcas como Louis Vuitton, Victor Hugo, Nike e Adidas ganham “cara” nova nas mãos de artesãos de Porto Alegre (RS). As bolsas, camisetas, calças e bermudas são apreendidas pela Receita Federal do Estado, têm os logotipos arrancados e recebem costuras, estampas e detalhes diferentes.
Os produtos, que antes eram destruídos, agora são doados pela Receita Federal e reaproveitados, gerando renda para esses pequenos empreendedores.
Uma calça, por exemplo, pode ser transformada em uma bolsa, sacola ou tapete. Uma camiseta pode virar uma almofada. Todas as peças são vendidas em feiras de artesanato.
A medida deve reduzir em até 20% os custos com material para a produção das peças, segundo artesãos.
A expectativa é de que as vendas aumentem em, pelo menos, 10%, de acordo com a líder do grupo Mulheres de Fibra com Mãos de Fada, Zulma Rosane Natário da Silva, 53, que participa da ação.
“Vamos poder reduzir o preço das peças porque parte da matéria-prima vai chegar sem custos para nós”, diz. O grupo, que conta com quatro artesãs, acaba de finalizar as primeiras peças produzidas a partir de mercadorias apreendidas.
Entre os itens estão elásticos para prender o cabelo (feitos com restos de tecido) e bolsas e tapetes (feitos com partes de calças). As camisetas e bolsas apreendidas também recebem novas estampas para cobrir logotipos falsificados de marcas famosas.
As bolsas, por exemplo, são revestidas completamente com tecidos para descaracterizar a falsificação, segundo a artesã. Os preços variam de R$ 1,50 a R$ 90. O faturamento não foi informado.
Idemar Domingues Mendonça, 62, coordenador do grupo Arte e Vida, também prevê aumento de 10% nas vendas com a doação de material pela Receita.
Ele pegou os primeiros produtos em dezembro e pretende fazer novas bolsas, sacolas de jeans e fuxicos (flores e outras figuras feitas com retalhos de tecido). “Vamos ter peças mais bonitas e baratas. Espero, com isso, vender mais”, declara.
Por mês, o grupo de 12 pessoas vende, em média, 200 itens. Os preços variam de R$ 3,50 para uma nécessaire (estojo de uso pessoal) a R$ 300 para uma colcha de cetim.
A coordenadora do grupo ABS Biju, Sueli Duarte da Trindade, 49, notou queda de 20% no custo com material. Ela participa da descaracterização de produtos apreendidos desde agosto.
Nas mãos das cinco artesãs do grupo, o tecido das camisetas vira almofadas e prendedores de cabelo e as calças viram bolsas. Por mês, elas vendem uma média de cem peças, que variam de R$ 5 a R$ 70.
“A economia com materiais tem nos ajudado a guardar um pouco mais de dinheiro para investir no negócio e melhorar o produto”, afirma.
Reaproveitamento diminui impacto no ambiente
Para o superintendente-adjunto da Receita Federal no Rio Grande do Sul, Ademir Gomes de Oliveira, o reaproveitamento de produtos apreendidos é uma forma de incentivar o trabalho do artesão e de reduzir o impacto dessa mercadoria no ambiente.
“Todos esses itens utilizaram recursos naturais no processo de produção e, se fossem destruídos, não trariam benefício para ninguém”, diz.
Segundo Oliveira, a Receita Federal apreendeu cerca de R$ 600 milhões em mercadorias ilegais até outubro de 2013 no Estado. No entanto, não há um controle de quanto desse montante segue para a descaracterização.
“Os artesãos vêm aqui e retiram o que vão utilizar já sem os logotipos. Apenas vestuário e bolsas são doadas. Eletrônicos precisam ser destruídos porque podem apresentar mau funcionamento e também criar um mercado de peças e aparelhos”, afirma.
O projeto beneficia 60 artesãos associados à Avesol (Associação do Voluntariado e da Solidariedade), de Porto Alegre.
Depender apenas de doações pode limitar negócio
De acordo com o coordenador da incubadora de negócios sociais da FGV (Fundação Getulio Vargas), Felipe Bannitz, a iniciativa atua no combate à pobreza e cria uma alternativa de renda para os artesãos.
Porém, depender da doação de materiais é um limitador para a atividade. “Se a Receita apreender poucas mercadorias no mês, a produção do artesão será menor. Ele precisa usar esta iniciativa como uma alavanca para o negócio e não como uma muleta”, afirma.
Além disso, Bannitz declara que lojistas locais podem se sentir prejudicados com a doação de matéria-prima para os artesãos.
“O volume de apreensões não é grande o suficiente para incomodar a indústria de roupas, mas, com o custo de produção menor, os artesãos podem cobrar preços inferiores aos das lojas e disputar os mesmos clientes.”
Serviço:
Avesol: Fone: (51) 3221-2318. Site: www.avesol.org.br
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