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Reportagem

Emprego em alta, fim do 6x1 e apps sem regras: o mundo do trabalho em 2024

Nesta época de retrospectivas, listamos alguns dos acontecimentos mais marcantes do ano no mundo do trabalho.

Em 2024, o Brasil registrou a menor taxa de desocupação (6,1%) em mais de uma década. Para além do fato inegavelmente positivo, há também sinais de alerta — como os impactos do mercado aquecido sobre a inflação e as dificuldades dos jovens para conseguir o primeiro emprego.

Já o destaque negativo fica com a demora da regulamentação do trabalho por aplicativos. Alvo de críticas por todos os lados, o projeto de lei apresentado em março pelo governo federal para disciplinar a atividade dos motoristas de plataformas, como Uber e 99, segue sem perspectiva de aprovação pelo Congresso Nacional.

Também lembramos a viralização do movimento que defende o fim do regime 6x1 (seis dias de trabalho por um de descanso), em nome de mais qualidade de vida para os trabalhadores brasileiros sujeitos a essa escala.

Por fim, colocamos na lista o agravamento da tensão entre o STF (Supremo Tribunal Federal) e a Justiça do Trabalho, principalmente em processos envolvendo as chamadas "uberização" e "pejotização".

Boa leitura e feliz Ano-Novo!

Desemprego chega ao menor nível em 13 anos, mas 'esconde' dificuldade de jovens

Em 2024, o país registrou no trimestre finalizado em novembro a menor taxa de desemprego em 13 anos: 6,1%, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O crescimento da ocupação, com 103,9 milhões de brasileiros em atividade, também foi acompanhado de um importante aumento na massa de rendimentos da população.

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Apesar dos números inegavelmente positivos, há um segmento da população que ainda enfrenta dificuldades para abrir as portas do mercado de trabalho: os jovens de 18 a 24 anos. Nessa faixa etária, o desemprego é bem superior ao da média nacional e atinge o patamar de 16,8%.

Parte da queda do desemprego se deve a cerca de 2 milhões de pessoas que deixaram de procurar ocupação, em virtude da expansão dos programas de transferência de renda, desde a pandemia.

O mercado aquecido também desperta preocupações sobre a inflação. Com mais gente ocupada, a demanda por produtos e serviços cresce. O custo do trabalho também aumenta, o que ajuda a pressionar os preços. Em 2024, a taxa de inflação vai fechar o ano acima da meta de 4,5% estipulada pelo governo.

Governo apresenta proposta, mas regulamentação de trabalho por app patina

Após meses de debates em uma malfadada comissão especial montada em Brasília para regulamentar o trabalho por aplicativo, o governo federal finalmente divulgou, em março deste ano, um projeto de lei (PL) para a categoria dos motoristas.

Encaminhado ao Congresso Nacional, o PL 12/2024 foi alvo de críticas de todos os lados. A principal queixa dizia respeito ao modelo de remuneração por hora trabalhada — lideranças de motoristas que não tiveram assento na comissão reivindicam pagamento por quilômetro rodado.

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Na tentativa de aprovar o projeto de lei ainda em 2024, o deputado federal Augusto Coutinho (Republicanos-PE), relator da matéria na Câmara, fez uma série de modificações na proposta original do governo. A principal delas é a estipulação de uma taxa máxima de 30% para as plataformas, por corrida. Mesmo assim, o PL 12/2024 segue em tramitação, sem previsão de aprovação pelo Congresso.

No caso dos entregadores, a falta de entendimento mínimo entre empresas e trabalhadores impediu a redação de uma proposta. Lideranças da categoria resistem à ideia de remuneração apenas pelo período efetivamente gasto em corridas e defendem o pagamento da chamada "hora logada" — o tempo total à disposição das plataformas.

Fim do regime 6x1 viraliza e pauta debate sobre trabalho decente

Encabeçado por Rick Azevedo, vereador eleito no Rio de Janeiro pelo PSOL, o movimento Vida Além do Trabalho (VAT) bombou nas redes sociais ao propor o fim da escala 6x1, de seis dias de trabalho por um de descanso.

A proposta foi levada ao Congresso Nacional pelo gabinete da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), por meio de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição).

A nossa Carta Magna afirma que a "duração do trabalho normal" é de 44 horas semanais. Por causa disso, muita gente pega no batente de segunda a sexta-feira por oito horas diárias e faz meio período no sábado.

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Os defensores do fim da escala 6x1 têm como foco o impacto sobre a qualidade de vida dos milhões de trabalhadores, sobretudo os de baixa renda, privados de um fim de semana completo. Já os críticos batem na tecla de que a redução da jornada, sem diminuição dos salários, causaria aumento no custo do trabalho e redundaria, no fim das contas, em inflação.

Para além das questões sobre qualidade de vida, o debate sobre o fim da escala 6x1 também expõe a relação direta entre o excesso de jornadas e os acidentes de trabalho.

Das 20 ocupações com mais notificações de acidentes em 2022, 12 também aparecem na lista das 20 categorias com o maior número de contratos de 41 horas ou mais de trabalho por semana.

STF segue em conflito com a Justiça do Trabalho por uberização e pejotização

A relação entre o STF (Supremo Tribunal Federal) e a Justiça do Trabalho seguiu conturbada ao longo de 2024 devido a dois temas centrais: uberização (o trabalho por aplicativos) e pejotização (a contratação de profissionais por meio de pessoas jurídicas, as chamadas PJs).

Mais para o fim do ano, entre os dias 9 e 10 de dezembro, o STF organizou uma ampla audiência pública para debater a existência de vínculo empregatício, nos moldes previstos na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), entre aplicativos e trabalhadores.

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A audiência foi convocada pelo ministro Edson Fachin — ele é o relator de um processo que vai definir a chamada "repercussão geral", quer dizer, a posição definitiva do STF sobre o assunto. Dias antes, o Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (TRT2), segunda instância da Justiça trabalhista, havia multado o iFood em R$ 10 milhões e mandado o aplicativo assinar a carteira de entregadores.

Desde 2023, membros do Supremo vêm cassando, por meio de canetadas monocráticas (individuais), decisões de juízes trabalhistas que apontam fraudes e determinam o reconhecimento de vínculo empregatício em ações sobre uberização e pejotização.

Para justificar as derrubadas, a maioria dos ministros do STF — com exceção de Flávio Dino e, em menor escala, de Edson Fachin — recorre a um entendimento firmado pela corte em 2020, que libera as terceirizações. Geralmente, esse argumento é combinado com a justificativa de que nem toda relação de trabalho precisa ser protegida conforme o que manda a CLT.

Por outro lado, especialistas em direito do Trabalho temem não só o afrouxamento da CLT, mas também o esvaziamento da competência da Justiça do Trabalho para analisar processos sobre esses temas. Essa situação poderia estimular fraudes e precarizar direitos.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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