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Artesãos criam cooperativa para vender peças para turistas de Foz do Iguaçu

Sergio Kapustan

Do UOL, em São Paulo

29/10/2013 06h00

Com investimento de R$ 300 a R$ 30 mil, artesãos da região de Foz do Iguaçu (PR), na divisa do Brasil com o Paraguai e a Argentina, organizaram uma cooperativa para produzir e comercializar peças com materiais típicos da região como madeira, pedras e tecidos para montar um negócio próprio.

A iniciativa vem proporcionando uma renda mensal que varia de R$ 1.500 a R$ 3.000 para cada um dos 600 artistas que compõem a Coart (Cooperativa de Artesanato da Região Oeste e Sudeste do Paraná).

A entidade, que representa artesãos de 17 municípios da região, é responsável pela comercialização dos produtos e pela formalização do negócio, já que os associados podem emitir nota fiscal a cada venda.

A cooperativa mantém três pontos de venda próprios –centro da cidade, Parque Tecnológico de Itaipu e Centro de Recebimento de Visitantes (CRV)– além de firmar convênios com hotéis e lojas da região. Para se associar, é preciso pagar uma única taxa de R$ 100.
    
A entidade integra um projeto do governo federal chamado Ñandeva –que significa “Todos nós” em guarani– para capacitar artesãos e certificar produtos regionais.

Segundo representantes do Ñandeva, em sete anos de existência, o projeto capacitou mais de 5.500 pessoas. 

O grupo e outros artesãos da região vão expor suas peças durante o 2º Fórum Mundial de Desenvolvimento Econômico Local que começa nesta terça-feira (29) e vai até o dia 1º de novembro em Foz do Iguaçu.

Vício de mãe para filha

Cooperada desde 2008, a artesã Tânia Onishi, 58, diz que adquiriu o "vício" de bordar e tricotar da mãe, Alice Gomes de Oliveira, 83, e das tias. “Todas eram tão dedicadas e, por eu crescer neste ambiente contagiante, quis investir em um negócio que eu fizesse com amor", diz.

Para começar as atividades, Onishi investiu R$ 1.000 na compra de matéria-prima (tecido de algodão e sintético). Atualmente, sua renda mensal é de R$ 2.000.

Entre os produtos mais procurados da artesã estão pingentes (R$ 3 a unidade), capas de celular (R$ 10,35 a R$ 11,50)  e de notebook (R$ 53 a R$ 67).

Artista une tradição oriental e história de Brasil, Argentina e Paraguai

As referências orientais de sua infância e os elementos históricos e naturais do Brasil, Argentina e Paraguai –como construções jesuíticas e a fauna –, são a fonte de inspiração da artista plástica chinesa Maria Cheung, 56, de Foz do Iguaçu.

Cheung, que está no Brasil há 49 anos, produz artigos de cerâmicas há 25. "Ao criar uma peça, eu tento reproduzir minha origem cultural e o lugar onde moro”, diz.

Para começar o negócio ela investiu R$ 30 mil para compra o forno e a matéria-prima para produzir as peças de cerâmica. Atualmente, ela tem uma renda mensal de R$ 1.500.

Os preços dos objetos produzidos pela artista variam de R$ 12,70 (um copo de licor) até R$ 400 (quadros com placas de cerâmica).

Ex-dona de casa vira empresária e quer ajudar outras a montar negócio

Há dez anos, a dona de casa Maria Benazzi Zoia, 50, de Marechal Rondon (PR), começou a mudar de vida quando aprendeu a costurar tapetes artesanais com sua vizinha, Alvina, depois de fazer os serviços da casa.

Com apenas R$ 300, ela comprou tecido reciclado e linha de costura e começar a produzir peças.

Os primeiros clientes foram os vizinhos e os parentes. Em 2009, sentindo que as encomendas estavam aumentando, segundo ela, convidou a amiga Vilma Jaques para abrir um negócio. Na época, segundo Zoia, ela concluiu que o negócio havia mudado a sua vida para melhor.

“Percebi que tinha talento para ser empresária e não parei mais.”

Para dar conta da produção local, Zoia firmou uma parceria com 23 costureiras. Por mês, elas produzem juntas 250 jogos de tapetes de cozinha (de R$ 90 a R$ 110) e 250 jogos de tapete de banheiro (de R$ 75 a R$ 95), além de produtos para sala, quarto, banheiro e infantil.

Cada uma das sócias tem uma renda mensal de R$ 3.000 por mês.

Atualmente, Zoia também se se dedica a organizar uma cooperativa de mulheres na sua cidade. Já conta com 95 interessadas cadastradas.

“O artesanato mudou a minha vida e agora com a associação vamos abrir uma oportunidade para que mais mulheres conquistem seu espaço no mercado de trabalho”, diz a empresária.

Cooperado deve participar de assembleias e buscar formalização

A informalidade e a falta de participação dos cooperados prejudicam o trabalho dos artesãos no país, segundo Juarez de Paula, gerente de comércio de serviços do Sebrae Nacional (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

O gerente afirma que, de modo geral, os artesãos estão procurando se legalizar no país, mas em estados como Piauí, Bahia e Pernambuco, o problema persiste. Segundo Paula, a falta de formalização prejudica o desenvolvimento de negócios.

“Na prática, o informal só pode vender para o consumidor direto. Por não ter inscrição, fica impedido de ser fornecedor de prefeituras e empresas, que são grande compradores, por falta de nota fiscal”.

Sobre a participação dos associados na gestão da cooperativa, o gerente afirma que há problemas de esvaziamento de assembleias. Com isso, os problemas de gestão aparecem e inviabilizam os negócios.

“Como a cooperativa não tem um grupo coeso, é comum o presidente convocar assembleia somente para oficializar sua decisão. E a gente sabe: sem democracia participativa, a decisão de um pode ser o prejuízo de todos”.