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OPINIÃO

Café, trilha e muita conversa: os segredos da liderança premiada da Zatom

Liderança engajada, equipe motivada: em um mês de alta produtividade, são confeccionadas até 150 mil peças - Divulgação/Zatom
Liderança engajada, equipe motivada: em um mês de alta produtividade, são confeccionadas até 150 mil peças Imagem: Divulgação/Zatom

Bruno Lazaretti

Do UOL, em São Paulo

01/12/2020 15h19

Resumo da notícia

  • Zatom Confecções, de SC, vence o Prêmio Lugares Incríveis para Trabalhar 2020 como "Liderança Mais Incrível" entre empresas de pequeno porte
  • 97,8% dos funcionários consideram seu chefe "coerente"; 68% recebem feedback sobre sua performance; e 43% acham a gestão "inspiradora"
  • Fábrica produz até 150 mil produtos por mês, em sua maioria peças para moda masculina e infantil;
  • Clima familiar é estimulado com café, decisões coletivas, rodas de agradecimento ou elogio mútuo e excursões para visitar cachoeiras
  • Fundadora da empresa e seu filho, atual CEO, costumam também operar máquinas de costura, ajudando equipe a bater metas
  • Empresa iniciou projeto para lançar sua própria marca, representada por uma formiga, ainda este ano

Um dia típico de trabalho na Zatom Confecções, indústria têxtil em Presidente Getúlio (SC), começa com uma recepção calorosa de Dona Zilda e seu filho, Cleiton. Eles abrem a porta às 4h da manhã e oferecem um café fresquinho para os 55 funcionários. Mas Zilda Schmitz Rossi, 56, e Cleiton Rossi, 30, não são copeiros da confecção: são os donos da empresa.

Ficha Zatom - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL
Agora, o café será o segundo motivo para vibrar nessas manhãs. A Zatom venceu o Prêmio Lugares Incríveis para Trabalhar 2020 na categoria "Liderança Mais Incrível", entre as empresas de pequeno porte (até 300 funcionários). A vitória foi puxada por vários resultados expressivos na pesquisa FIA Employee Experience, que serviu de metodologia para o prêmio. Por exemplo: 68% dos funcionários recebe feedback sobre sua performance; 43% considera o estilo de seu chefe "inspirador"; e 97,8% o considera "coerente": ele age de acordo com o que diz.

"Eu tento desenvolver cada um aqui dentro para acreditar no seu potencial. Acreditar em si mesmo", conta Zilda. "Já me chamaram de louca por eu ser assim. Mas acho que, se eu tentar ser diferente, não serei eu mesma. Se tento buscar uma gestão mais hierárquica, não consigo".

A Zatom é a menina dos olhos entre as indústrias do município de 16 mil habitantes e arredores. As vagas, quando abrem, são preenchidas rapidamente - foram 10 contratados no mês de agosto, mais quatro em setembro e um em outubro. Gislaine Machado Garcia da Silva, gestora de RH da empresa há dois anos, se recorda como considerava a Zatom antes de entrar: "Eu a conhecia como uma empresa menor. Mas conhecia o Cleiton e a Zilda como pessoas, nunca tive dúvidas de que era uma empresa 100% correta. Quando me desvinculei de uma outra empresa onde trabalhei, tomei outros rumos, e eventualmente entendi que queria voltar pro ramo, e entendi que era na Zatom que eu queria trabalhar".

O painel na entrada da empresa, que estimula cada funcionário a contar um sonho e se inspirar para cumpri-lo, não é demagogia. Zilda sabe, em primeira mão, o poder que todo sonho tem (e o esforço necessário para alcançá-lo): ela fundou a Zatom em 1986, no quintal de casa, costurando madrugada adentro entre os turnos que fazia em uma fábrica da Hering.

Todo mundo elogia, todo mundo participa

Roda de funcionários da Zatom - Divulgação/Zatom  - Divulgação/Zatom
“Roda do Agradecimento” faz parte do dia a dia
Imagem: Divulgação/Zatom
Foi essa renda extra que colocou Cleiton e sua irmã, Cristina, na faculdade. Ele começou estudando Educação Física em Blumenau, mas, no segundo ano, aplicou para um programa de intercâmbio e fez parte da graduação na cidade de Porto, em Portugal. Voltou em 2011 com outra cabeça, determinado a transformar a empresa da família.

"A gente tem a humildade de saber acolher as sugestões dos colaboradores. Não somos os donos da verdade só porque somos os donos da empresa", explica Cleiton. "O poder está na mão de todos. Todos têm direito de votar, reclamar, sugerir, colocar a Zatom onde ela está."

Diariamente, ele conduz uma reunião chamada "Rapidão", com todos os times da linha de produção. O objetivo é compartilhar as metas e o andamento dos negócios. Tem também a "Roda do Agradecimento" e a "Roda do Elogio", em que colegas de time destacam qualidades e atitudes uns dos outros. Duas vezes por ano, ocorrem pesquisas de clima organizacional. E, além delas, há um questionário interno quadrimestral, sobre benefícios, salários, férias e outras questões importantes para a equipe.

"A gente não toma decisão sozinho aqui dentro. Todo mundo participa. A gente pergunta sobre tudo. Sobre aumento, sobre [como comemorar] o Dia do Trabalhador, sobre que presente de aniversário a gente vai dar ou que pizza a gente vai pedir", diz Gislaine.

Um líder que é escoteiro, capitão e marujo

Zatom no Mato - Divulgação/Zatom - Divulgação/Zatom
Rossi, à frente do grupo, em uma das edições da "Zatom no Mato"
Imagem: Divulgação/Zatom
Tanto no Brasil quanto em Portugal, Cleiton manteve-se envolvido em uma de suas grandes paixões: o movimento escotista. Seus anos como escoteiro certamente ajudaram a compor seu estilo de liderança, gregário e coletivista. E são ainda mais úteis quando ele lidera os colaboradores no grande evento bianual de integração: uma expedição pelas trilhas e cachoeiras de Presidente Getúlio. A aventura é carinhosamente chamada de "Zatom no Mato".

"Ai, tem cada cachoeira medonha que o Cleiton leva a gente [risos]", brinca Gislaine. "Ele sempre fala que estamos chegando, chegando, e a gente nunca chega [risos]. Mas é fantástico, é uma coisa que une muito. E a questão de estar na natureza é algo que a gente preza muito, cuidar do meio ambiente. Virou uma coisa que todo ano tem."

Para além de questionários, confraternizações e cafezinhos, o contato de Cleiton e Zilda com sua equipe é constante, geralmente na própria linha de produção. Frequentemente, eles mesmos se sentam às máquinas de costura - às vezes para cobrir faltas, às vezes para colaborar com o cumprimento de metas e prazos. "Se eu pudesse costurar o dia inteiro, eu costurava, porque adoro. Mas a empresa precisa ter um norte. Então preciso às vezes ser capitão, às vezes ser marujo", afirma Cleiton.

A verdade nos números e o futuro da formiga

Roda de funcionários da Zatom - Divulgação/Zatom - Divulgação/Zatom
A formiga do logo representa ética de trabalho da equipe
Imagem: Divulgação/Zatom
O clima da Zatom também se traduz em produtividade. Cleiton afirma que, em um mês típico, a empresa produz 150 mil produtos, em sua maioria peças para moda masculina e infantil. Com 50 funcionários, isso significa que cada um produz 3 mil peças por mês, ou mais de cem por dia. "Após a pandemia, pulverizamos a nossa cadeia com oito cliente diretos. Cada equipe trabalha com um ou dois clientes. Entregamos para Marisa, Renner, Carrefour, mas não diretamente, e sim por um intermediário", explica o empresário.

A confecção também goza de uma boa reputação no mercado. Segundo Cleiton, após pararem por nove dias durante a pandemia, a recuperação foi frenética. "Na segunda-feira, eu ligava para 20 clientes; na terça, outros 20. No total, falei com uns 80, em uma semana, para mostrar a nossa vontade de ficar no mercado" relembra. Deu certo: "Chegou um boom de pedidos. Máscara, jaleco..."

O crescimento já compensou as demissões durante a pandemia. E a empresa deslanchou um plano ambicioso ainda este ano: criar uma marca própria. O logo, uma formiga, foi escolhido por simbolizar a ética de trabalho do grupo, exemplificado na história de vida de Zilda, que costurava madrugadas adentro. "Decidimos que precisamos jogar nosso propósito para o universo. Colocar para fora nosso conceito de pessoa, de natureza e de sustentabilidade. Então, criamos nossa marca. Assim, a gente leva nossa formiguinha para o mundo inteiro", resume.

O Prêmio Lugares Incríveis para Trabalhar é uma iniciativa da Fundação Instituto de Administração (FIA) e do UOL. A premiação é baseada na pesquisa FIA Employee Experience, respondida por 150 mil funcionários de mais de 300 empresas brasileiras, entre agosto e setembro. Confira os vencedores: