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Como a Siemens fez 99% dos funcionários se sentirem amparados na pandemia

Funcionários da Siemens: protocolo de cuidados abrangente foi decisivo no combate à pandemia - Divulgação/Siemens
Funcionários da Siemens: protocolo de cuidados abrangente foi decisivo no combate à pandemia Imagem: Divulgação/Siemens

Diogo Antônio Rodriguez

Do UOL, em São Paulo

01/12/2020 14h56

Resumo da notícia

  • Siemens venceu o Prêmio Lugares Incríveis para Trabalhar 2020 na categoria "Atuação Mais Incrível na Pandemia"
  • Iniciativas de segurança, saúde e apoio psicológico fizeram 99% dos funcionários se sentirem amparados durante a crise sanitária
  • Com estrutura para home office estabelecida desde 2014, empresa iniciou protocolos de prevenção assim que foi alertada pela filial chinesa
  • Fábricas não interromperam operações; entre as medidas de segurança, medição de temperatura e testagem em 100% dos funcionários a cada 15 dias
  • Taxa de contaminação por Covid-19 gira em torno de 2% e nenhum funcionário perdeu a vida
  • 70% dos processos, treinamentos, avaliações de performance e pesquisas de clima foram digitalizadas, e continuarão assim após pandemia

Com cerca de 2.000 colaboradores no Brasil, a reação da multinacional de tecnologia Siemens à pandemia de Covid-19 foi parecida com a de muitas empresas. "Quando os casos começaram a aumentar exponencialmente, não tivemos dúvidas. Em 13 de março, anunciamos para a companhia inteira que iríamos para um home office sem data de retorno prevista", relembra Caroline Zilinski, head de recursos humanos.

Ficha Siemens - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL
Mas foi o que a empresa fez depois disso que garantiu a ela o Prêmio Lugares Incríveis para Trabalhar 2020, na categoria de "Atuação Mais Incrível na Pandemia". A estratégia envolveu liderança atuante, comunicação transparente, um protocolo de cuidados abrangente e um compromisso poderoso: nenhuma demissão ou redução de salário. Os funcionários notaram. Na pesquisa FIA Employee Experience, que serve de base ao prêmio, 99% afirmaram que se sentiram amparados - um índice extraordinário.

Dois fatores foram chave para que a Siemens, especializada em equipamentos industriais, elétricos e tecnológicos, saísse na frente. Primeiro, o fato de ser uma empresa global: em dezembro, sua filial na China já havia começado a tomar medidas de proteção, que serviram para orientar os escritórios da companhia em outros países.

E segundo, uma política de home office bem estabelecida desde 2014. "Toda a nossa infraestrutura já era preparada tecnologicamente para isso. Todo mundo já trabalha com notebook, até o estagiário. Já trabalhávamos com VPN [rede privada virtual que permite a troca de informações pela internet de maneira segura], servidor grande, e-mail na nuvem", afirma Zilinski. E, diferentemente de muitas empresas, a Siemens criou um benefício extra para cobrir os gastos de luz e internet de quem passou a trabalhar de casa.

A produção não podia parar

Funcionária Siemens - Divulgação/Siemens - Divulgação/Siemens
Nas fábricas, 100% dos funcionários estão sendo testados a cada 15 dias
Imagem: Divulgação/Siemens
Nem todos os funcionários, no entanto, puderam migrar para o home office. "Nosso negócio está diretamente ligado a atividades essenciais", explica Zilinski. A Siemens produz, por exemplo, painéis elétricos, que permitem que hospitais, centros de saúde, empresas farmacêuticas e alimentícias continuem sua operação sem interrupções. Por isso, as fábricas não puderam suspender suas atividades.

Foram tomadas medidas como medição de temperatura e testagem em 100% dos funcionários a cada 15 dias. "Em linhas de produção, demarcamos no chão onde as pessoas podem ficar", afirma Zilinski. "Fretados foram multiplicados para que haja distanciamento social e higienização periódica. Os turnos mais populosos foram multiplicados e criamos alguns terceiros turnos para as pessoas ficarem distantes."

O zelo valeu a pena: a taxa de contaminação na Siemens está em torno de 2% e nenhum funcionário perdeu a vida. "Todos os casos tiveram sintomas muito leves. Quando um funcionário é contaminado, damos suporte também à família dele e testamos todos", explica a head de RH.

Um "novo normal"? mas sem pressa

Caroline Zilinski, head de recursos humanos da Siemens - Divulgação/Siemens - Divulgação/Siemens
Em julho, Caroline comandou a primeira seleção de estagiários completamente virtual
Imagem: Divulgação/Siemens
A Siemens entendeu que a melhor maneira de lidar com a pandemia é falar sobre ela. Seja para entender a Covid-19 (com um guia especial e uma newsletter semanal só sobre a doença), seja para desabafar o medo e a ansiedade que ela gerava. Para isso, ela criou o Oriente-Me, um app onde os colaboradores têm acesso gratuito a atendimento psicológico virtual. É possível trocar mensagens de texto ou áudio com esses profissionais duas vezes por dia e marcar até cinco consultas em vídeo por mês.

Assim como outras grandes empresas, a Siemens investiu pesado também em eventos online, focados em ergonomia, meditação, ginástica laboral ("Virou uma prática para a família toda", conta Zillinkski) e, claro, saúde emocional. "Temos um canal de conversa chamado Sem Surto e, todas as quartas, acontece um bate-papo chamado Mente em Foco, em que duas psicólogas falam sobre burnout, ansiedade, estresse familiar, etc".

Essa rápida adaptação à "virtualização" também ocorreu em outros departamentos, e com bons resultados. "Lembro de avisar ao nosso CEO, Pablo Fava, que abriríamos as inscrições para a seleção de estagiários em julho e ele se surpreendeu. Foi o nosso primeiro processo completamente virtual. Foi um sucesso. Estamos selecionando agora os que começam em janeiro de 2021", comemora a head de RH.

Funcionários Siemens - Divulgação/Siemens - Divulgação/Siemens
Taxa de contaminação é de apenas 2%, mas home office será mantido, no mínimo, até março
Imagem: Divulgação/Siemens
Segundo suas estimativas, 70% de todos os treinamentos, avaliações de performance e pesquisas de clima migraram para o virtual. E devem continuar assim: um indício do sucesso da empresa ao lidar com a pandemia foi exatamente a descoberta de novos processos e novas possibilidades.

"Já foi anunciado globalmente um projeto chamado New Normal, no qual todos os funcionários vão ter a possibilidade de trabalhar de duas a três vezes de casa, além de quem quiser trabalhar de casa para sempre", conta a executiva. Mas não há pressa para iniciar essa nova fase: a Siemens já decretou que, para proteger seus funcionários, o home office continua até março. "E, se a vacina não vier, vamos postergar ainda mais", conclui Zillinski.

O Prêmio Lugares Incríveis para Trabalhar é uma iniciativa da Fundação Instituto de Administração (FIA) e do UOL. A premiação é baseada na pesquisa FIA Employee Experience, respondida por 150 mil funcionários de mais de 300 empresas brasileiras, entre agosto e setembro. Confira os vencedores: